Por Sindifisco Nacional
“Meu marido quis comprar uma arma. Fui terminantemente contra. Armas são para matar e eu não queria isso. Ele me perguntou: você prefere um pai de família morto ou um bandido? Eu disse: nada vai te acontecer. Confia em Deus e Ele vai te proteger. Não foi o que aconteceu”. A declaração da viúva do Auditor-Fiscal José Antônio Sevilha foi um dos momentos marcantes desta quarta (4), segundo dia do julgamento que está sendo realizado no prédio da Justiça do Trabalho, em Maringá (PR).
A pedido de Mariangela Gasparro Sevilha, os três réus – o empresário Marcos Gottlieb, o policial civil Fernando Ranea da Costa e o advogado Moacyr Macedo – foram retirados do plenário.
O testemunho que se iniciou ainda na noite de ontem (3) foi marcado pela emoção. A viúva havia solicitado dispensa, alegando que o primeiro júri, realizado em agosto do ano passado, a deixou abalada psicologicamente e que ela é responsável pelo cuidado da mãe, que tem 88 anos, sofre de Alzheimer e se recupera de uma fratura na perna.
O assistente de acusação contratado pelo Sindifisco Nacional, Odel Antun, sugeriu que fosse exibido aos jurados o vídeo do depoimento dado por ela no primeiro júri e que ela entrasse novamente em plenário apenas se os próprios jurados sentissem necessidade de fazer mais questionamentos.
No entanto, diante da inflexibilidade da defesa de Marcos Gottlieb, o juiz não aceitou o pedido de dispensa, e Mariangela teve que depor novamente. “Já me massacraram tanto no primeiro julgamento. Para que isso? Eu sou apenas uma esposa, uma dona de casa. Não vi nada”, protestou, aos prantos, sob o olhar da mãe idosa em uma cadeira de rodas.
A viúva teve que rememorar a vida ao lado do Auditor-Fiscal desde o início do relacionamento, passando por crises conjugais, até o assassinato. Ela respondeu a questionamentos do juiz Cristiano Manfrin e dos representantes do Ministério Público Federal, diante da plateia formada majoritariamente por Auditores-Fiscais e pessoas ligadas ao Direito.
Mariangela contou que Sevilha levava sempre com ele um pendrive onde guardava informações importantes sobre a investigação que realizava e que pretendia entregar o dispositivo às autoridades. No entanto, foi morto um dia antes de poder concretizar a entrega. Depois da morte do marido, ela não viu mais o pendrive.
Odel Antun, a defesa de Fernando Ranea e a de Moacyr Macedo abriram mão de fazer perguntas para poupar a testemunha. Já o advogado Ércio Quaresma, que comanda a defesa do empresário acusado de ser o mandante do assassinato, solicitou a exibição de uma escuta telefônica e, alegando que faria perguntas de âmbito mais íntimo, solicitou o esvaziamento do plenário. Por cerca de duas horas e meia, o depoimento prosseguiu a portas fechadas. De acordo com o assistente de acusação, a parte secreta do testemunho não trouxe novidades relevantes.
Testemunha ocular – A segunda testemunha ouvida foi Suelen Campos Sales. Na época do crime, ela morava em um sobrado em frente ao local em que o Auditor foi morto. Ela relatou ter ido à janela após ouvir um barulho de moto acelerando. Disse que viu a moto atrás do carro de Sevilha, em seguida ao lado do motorista. Segundo ela, o piloto da moto segurava algo na mão esquerda e chegou a colocar parte do corpo dentro do carro pela janela. Mas não soube responder se ele havia retirado algo. Passados quase 15 anos do assassinato, a testemunha alegou não lembrar dos fatos em detalhes.
Histórico – Conhecido pelo combate às fraudes em importações, Sevilha era chefe da Seção de Controle Aduaneiro em Maringá e havia descoberto um esquema de subfaturamento e fraude na Gemini, uma empresa do ramo de brinquedos que pertencia a Marcos Gottlieb.
O Auditor foi morto com cinco tiros em uma emboscada, em 29 de setembro de 2005. A motivação do crime seria interromper as investigações contra a empresa, segundo a Polícia Federal.
Publicado originalmente em Sindifisco Nacional.